– Apoiantes de Freitas do Amaral brindam à vitória da C na Associação AcadémicaEntre os elementos da Lista C (afecta à JS), vemos Gonçalo Quadros, o fundador da Critical Software
O “espírito C” traduziu-se no alargamento da base de apoio da JS, congregando em seu torno muitos independentes por norma avessos às lutas e tricas partidárias, mesmo que de índole juvenil.O corolário dessa estratégia evidenciou-se, e de que forma, nos resultados eleitorais, com uma catadupa de vitórias na AAC e nas Faculdades, mas também num espírito de sã convivência com integrantes e apoiantes das outras listas.Pode parecer paleio de chacha, mas não é. A foto que aqui reproduzimos retrata isso mesmo. Poucas horas depois de Paulo Barreto ter vencido as eleições para a Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra, já a noite ia alta, imaginem quem aparece para confraternizar com os elementos da LISTA C?Nada mais nada menos que os derrotados da noite, os elementos da lista afecta à JSD e que se havia apresentado como “challenger” ao sufrágio.O encontro não se deu em terreno neutro, mas na sede do Partido Socialista, à Rua Oliveira Matos.
Pode parecer banal aos olhos de hoje, esta sã convivência, regada com umas cervejolas, ou o chá de malte liquefazendo inimizades de há horas atrás. Mas não era banal.E tudo porque a vitória da Lista C, liderada por Paulo Barreto, aconteceu em pleno período de campanha para a segunda volta das presidenciais, duelo Freitas do Amaral/Mário Soares.Foram as eleições presidenciais mais disputadas de sempre, com muitas escaramuças à mistura, país fora, muitos nervos à flor da pele.
A primeira volta tinha-se realizado a 26 de Janeiro de 1986, com Freitas do Amaral distanciando-se bastante de Mário Soares (2.629.597 votos contra 1.442.683, respectivamente). Eleições a que concorreram também Francisco Salgado Zenha, Maria de Lourdes Pintasilgo e Ângelo Veloso (este viria a desistir). Eleições que ficaram marcadas pelo célebre episódio da Marinha Grande, com agressões a Mário Soares por alegados apoiantes/militantes do PCP. As eleições que, na segunda volta, ofereceram aos portugueses o famoso sketch dos tempos de antena do PCP, com os militantes, olhos tapados com uma das mãos, afirmando ser necessário engolir um sapo (leia-se votar em Soares), para derrotar a direita.Muitos sapos foram engolidos, ao tempo só os “Amigos da Terra” içavam a bandeira verde. Se fosse hoje, a Quercus e outras associações ambientalistas por certo teriam feito queixa a Bruxelas, acusando o PCP de um ataque ignóbil contra uma espécie animal, a dos batráquios.Sapos ao tempo muito queridos dos portugueses, ou não tivesse Maria Armanda ganho, sete anos antes, a Primeira Gala Internacional dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz com a canção “Eu vi um sapo”.
Soares venceu com 3.010.756 (50,7%), Freitas do Amaral obtendo 2.872.064 votos (48,4%).Pois bem. Nesse clima de elevada tensão (na marcha em que Soares descia do Pavilhão dos Olivais até à Praça da República, acompanhado de milhares de apoiantes inflamados pelo comício de há momentos atrás, um apoiante de Freitas teve a ideia infeliz de fazer o caminho inverso, no seu Fiat 127 azul, com a bandeira de Freitas do Amaral. Os soaristas quase lhe viraram o carro. O moço foi salvo por meia dúzia de apoiantes mais serenos, que lá conseguiram, a muito custo, botar água na fervura da provocação que teve tanto de estóica como de para-suicida).
Pois bem de novo e para concluir. Reparem então nos autocolantes dos adversários que vieram substituir o travo amargo da derrota pelo sabor caloroso de meia dúzia de Sagres. Autocolantes da campanha de Freitas do Amaral…Também aqui, como em muitas outras coisas, o Projecto C foi precursor. Quem diria que, passado um ror de anos, o Prof. Freitas do Amaral integraria um governo do PS?!E esta, hein?, diria Fernando Pessa se ainda andasse por cá…
Sem pretender destacar ninguém desta foto em especial, para além de Paulo Barreto e de Ricardo Roque (Presidente da AAC 1984/1985), e de Benjamim Lousada (entre os dois), Benjamim Lousada que sucederia a Paulo Barreto (Presidente da DG da AAC 1987/1988), vemos ao cimo (segundo à esquerda na foto), Gonçalo Quadros, um integrante das listas C, jovem estudante na FCTUC).Também aqui a prova de que passar pelo movimento associativo, integrado ou não em listas partidárias, não faz mal a ninguém. Gonçalo Quadros haveria de fundar, anos mais tarde, a Critical Software, tecnológica sedeada em Coimbra, empresa de renome mundial.
Nota: Esta foto integra o espólio documental da Lista C, garantindo-se a todos os retratados que a mesma nunca será devolvida à sede do CDS, no Largo do Caldas. Nem em qualquer esquema de permuta que nos venha a ser proposto pelo líder daquele partido, permuta fotográfica, bem entendido.
DMA
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